A singularidade da colonização portuguesa vista por
Salazar
«Os Portugueses devem provavelmente a sua fama de
excelentes colonizadores à sua rara faculdade de adaptação. Com efeitos, têm
uma grande facilidade para se aclimatarem sob os céus mais inóspitos e
compreenderem rapidamente a mentalidade, a vida, os costumes e as actividades
dos povos que lhes são estranhos. Quando o Português se lança na exploração
aventurosa ou se instala no comércio, não organiza a sua vida à parte. Entra na
vida, mistura-se nela tal como a encontra e tal qual ela se oferece, sem
contudo abandonar o seu próprio cabedal de conhecimentos, de hábitos e de
práticas. A sua obra não é, seguramente, a do homem que passa, olha e segue o
seu caminho, nem a do explorador que procura febrilmente riquezas fáceis e em
seguida dobra a sua tenta para se afastar.»
Salazar, entrevista concedida a Christine Garnies -
1951
Uma das soluções baseou-se na definição de Estado
pluricontinental e multirracial, ou seja, baseou-se na alteração, já referida,
de alguns conceitos: colónia por província, assim como Império Português por
Ultramar Português; os espaços ultramarinos passavam a ser apresentados como
legítimas extensões do território nacional. Tendo por base todas estas
mudanças, a partir do momento que integra a ONU, em 1955, Portugal deixa de
fornecer informações sobre os territórios coloniais. O “Império Português” dá
lugar a um “Ultramar Português”.
A segunda solução e em termos ideológicos, a «mística
do império», que na década de 30, fora um dos pilares do Estado Novo, é
substituída pela ideia da «singularidade
da colonização portuguesa», inspirada nas teorias de Gilberto Freire.
Do ponto de vista do sociólogo brasileiro, os
Portugueses haviam demonstrado uma surpreendente capacidade de adaptação à vida
nas regiões tropicais, onde, por ausência de convecções racistas, se tinham
entregue à miscigenação e à fusão de culturas. Teoria esta que era conhecida
como luso-tropicalismo, servindo nos
anos 50, como pretexto para distinguir a colonização portuguesa, retirando-lhe
assim o carácter opressivo que assumia no caso das outras nações. As
características principais dos portugueses, do ponto de vista desta teoria, que
Freire relaciona com o desempenho colonial são:
- Mobilidade: Está explícito na história de Portugal o facto de os portugueses terem navegado “por mares nunca antes navegados” e realizado inúmeras viagens. Como resultado, Freire afirma que os portugueses têm uma tolerância excepcional e aptidão de convivência tranquila com as pessoas oriundas de outros círculos civilizacionais.
- Miscibilidade: A capacidade dos portugueses se relacionar sexualmente com outras pessoas, sem qualquer preconceito racial foi, segundo Freire, o instrumento principal da expansão portuguesa no mundo. A miscigenação é um sinal de reconhecimento da presença portuguesa nos outros continentes, distinguindo a sua colonização das restantes.
- Clima: As condições físicas de Portugal, sobretudo o sul do país, são comparáveis às do Norte de África ou a outras regiões na zona tropical, levando Freire a encarar este facto como uma vantagem dos portugueses comparativamente a outras nações europeias envolvidas no projecto colonial.
Portugal, «do Minho a Timor»
Um nativo de Angola, embora com limitações da sua
incultura, sabe que é português e afirma-o tão conscientemente como um letrado
de Goa saído de uma universidade europeia. O Português, por exigência do seu
modo de ser, previsão política ou desígnio da Providência, experimentou
juntar-se, senão fundir-se, com os povos descobertos, e formar com eles
elementos integrantes da mesma unidade pátria. Assim nasceu uma nação sem
dúvida estranha, complexa e dispersa pelas sete partidas, do mundo; mas quando
olhos que sabem ver perscrutam todas essas fracções de nação, encontram nas
consciências, nas instituições nos hábitos de vida, no sentimento comum, que
ali é Portugal.
Salazar,
Discurso de 30 de Maio de 1956
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